Vila Poty

A “Vila Poty”, o conjunto de casas que antes era “vila”, hoje se transformou em bairro, “Poty” carrega em seu discurso uma enorme materialidade histórica, trazendo marcas de desigualdade e signos da cidade de Paulo Afonso.

A vila tem esse nome porque suas casas simples, de pau-a-pique ou taipa, eram cobertas com papelões de cimento da empresa “Poty”, cimentos que eram usados na construção das usinas hidroelétricas da CHESF, e os moradores reutilizavam para cobrir suas moradias. O nome serviu também, para marcar um lado do muro, que existia literalmente no meio da cidade, separando de um lado o bairro/complexo residencial, “acampamento CHESF”, esse abastado, com escolas, saneamento, policiamento e direitos e do outro lado, a “vila dos cata ossos”, como era também adjetivada, a vila dos trabalhadores sem direitos, dos “cassacos”: a “Vila Poty”; o nome era/é ainda utilizado como adjetivo para um deboche classista, “da Poty”, ainda hoje serve para chamar alguém de economicamente pobre.

A foto mostra a materialidade imagética do que era a Vila Poty.

A cidade de Paulo Afonso: a cidade se formou e foi emancipada (1958), em meio ao empreendimento da CHESF, que foi criada em 1945, para dar andamento ao maior projeto industrial do país na época, e onde então era chamado Forquilha e Povoado Tapera de Paulo Afonso (Distritos de Glória-BA), só existindo algumas casas de taipa espaçadas, foram sendo construídas as Usinas da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), e seus acampamentos residenciais, se tornando o que hoje é conhecido por Paulo Afonso.

Desta forma, a cidade começa a tomar forma ao longo da construção das usinas, muitas pessoas de estados próximos vinham atraídos pelas chances de empregos gerados pela CHESF, caminhões pau de arara chegavam todo dia carregados de gente, assim, foram sendo formado dois principais bairros, o primeiro os “acampamentos CHESF”, moderno, com construção de alojamentos para funcionários solteiros e três vilas residenciais, uma para engenheiros e altos funcionários, outra para mão-de-obra qualificada e uma terceira para famílias de operários, separando por bairros cada categoria de classe dentro dos acampamentos.

Em entrevista ao historiador Antônio Galdino, D. Risalva Toledo, que já foi Vereadora e Vice-Prefeita de Paulo Afonso, relata:
“Na época da emancipação, Paulo Afonso era um vilarejo, grande parte das casas ainda casebres, cobertos com saco de cimento Poty. Nós não tínhamos energia elétrica nem água encanado. Água, apenas nos chafarizes construídos pela Chesf.”

Casas construídas para os funcionários de segundo escalão da CHESF.

Movimento de trabalhadores em frente às guaritas da Chesf. 1952

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