A xilogravura é uma forma de expressão artística e cultural cheia de detalhes e encantos que representa através das gravuras diversificados temas, além disso, é uma das técnicas de impressão mais antigas da história. Seu principal instrumento de trabalho é a madeira e o seu objetivo é reproduzir de forma artesanal o mesmo desenho inúmero vezes, para isso, o xilógrafo usa um instrumento específico cortante para fazer as escavações na madeira, atribuindo-lhe por meio dos entalhes a forma que deseja imprimir. Depois de modelada e transformada em matriz, a madeira esculpida recebe acabamentos mais específicos, como a tinta, que é passada no molde com um rolo de borracha, logo após o entitamento são feitas as impressões, processo simples de pressionar a matriz no papel ou tecido que se pretende obter a imagem gravada, este trabalho assemelha-se bastante ao carimbo.
A mil e quinhentos anos atrás, os chineses já faziam uso desta técnica para fazer as impressões nas cartas de baralhos, oração budista e do dinheiro. Assim como os chineses, os europeus produziam por meio desta técnica as imagens e textos dos livros, tornando-os mais acessíveis para a população. Já no Brasil, esta técnica juntamente com a literatura de cordel foi trazida pelos portugueses, se difundindo principalmente no Nordeste do país, fazendo desta região, um lugar de cultura forte e de pessoas que possuem identidades marcantes.
Em terras brasileiras o alicerçamento da literatura de cordel foi de suma importância, pois os sertanejos ainda não tinham contanto com o rádio e muito menos com a televisão, dessa forma, as pessoas compravam os cordéis para se manterem informados, já que, além das histórias fictícias, as páginas dos cordéis eram preenchidas com conteúdos jornalísticos, foi desta forma que J. Borges, um dos mais renomados cordelistas e xilógrafos brasileiro, teve contanto com o cordel e se apaixonou por esta arte, tornando-se um dos artistas mais importantes a disseminar as belezas dos cordéis e das xilogravuras por todo o mundo.
Patrimônio vivo, José Francisco Borges ou J. Borges como é popularmente chamado é um pernambucano nascido na cidade de Bezerros. Teve sua infância e adolescência marcadas por muito trabalho rural e outras obrigações extras, impedindo, dessa maneira, a sua permanência na escola, no entanto, nos curtos períodos de tempo que frequentou a escola conseguiu aprender a ler e a escrever.
Aos 20 anos de idade, Borges entra no mundo do cordel por meio da comercialização, isto é, passa a vender e declamar os folhetos nas feiras e festas populares. Aos 24 anos, o cordel entra de fato em sua vida com a publicação do seu primeiro trabalho intitulado “O Encontro de dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina”, este exemplar foi sucesso de vendas, instigando-o a publicação do segundo folheto, desta vez, ilustrado pelo próprio. Essa primeira gravura feita por Borges foi o ponta pé inicial para o reconhecimento e valorização mundial das suas ilustrações, levando-o a fazer exposições da sua arte em Cuba, Itália, Venezuela, Suíça entre outros países.
As xilogravuras de Borges são prestigiadas e consideradas de grande importância artística e cultural porque ele foi um dos primeiros a começar difundir esta técnica no Nordeste brasileiro, além disso, ele assume um estilo próprio ao criar as xilogravuras, visando descobrir em si e nas artes, novas formas de emitir os seus sentimentos, transmitindo para os seus trabalhos aquilo que ver, sente e que acontece na cultura nordestina, bem como, as artes, o folclore, as lendas, os costumes, as crenças, as leis, os hábitos e o dia a dia dos sertanejos.
A imaginação para criar os cordéis e as xilogravuras vencem a sua idade e os limites do seu corpo, pois, aos 84 ANOS, Borges faz questão de ir todos os dias para sua oficina trabalhar em conjunto com os seus filhos, produzindo diariamente novas histórias e gravuras, fazendo deste trabalho, uma marca característica do Nordeste e patrimônio cultural de muita importância e valor do Brasil.